Estudos mostram que as raças zebuínas oferecem, predominantemente, leite A2, não sendo afetadas pela mutação genética (leite A1). Segundo vários autores, as Beta Caseinas A1 e seu peptídeo, principalmente um denominado Beta Caso Morfina 7, estariam implicadas em uma série de reações alérgicas. Dessa forma, o zebu apresenta mais uma vantagem por não ser alergênico, além de agregar características já conhecidas, como rusticidade, adaptabilidade e resistência parasitária.
Leite A2: Um novo mercado para o Gir Leiteiro
Cerca de 10 mil anos atrás, segundo o cientista Keith Woodford, uma mutação no gado estimulou a produção da proteína beta-caseína A1, relacionada a uma série de reações alérgicas, além de casos de autismo, morte súbita e diabetes tipo 1 (infantil). Essa proteína, ao atravessar a mucosa intestinal e chegar na corrente sanguínea, causa reações indesejáveis: dependendo do organismo de cada um pode causar reações alérgicas, além de, em alguns casos, estimular o desenvolvimento de doenças crônicas.
A boa notícia para os produtores de leite brasileiros, em especial aqueles que trabalham com zebuínos, é que o zebu, como o gir, não foi afetado por essa mutação genética e, ainda, produz leite A2 em níveis próximos a 100%.
Segundo Anibal Eugênio Vercesi Filho, coordenador da pesquisa “Identificação de alelos para o gene da beta-caseína na raça gir leiteiro”, do universo de 400 animais participantes do estudo, já foram genotipados 385 animais. “As primeiras amostras genotipadas mostram que o alelo A2 se encontra em uma frequência bastante superior ao do alelo A1 na população de gir leiteiro”, explica Vercesi. A pesquisa é realizada pela APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) Regional, em parceria com Unesp Jaboticabal e ABCGIL.
Após a confirmação dos resultados e com a genotipagem das 400 matrizes será realizado um estudo de associação que permitirá verificar se na população de gir leiteiro existe influência dos alelos A1 e A2 da beta-caseína em características de produção de leite, gordura e proteína.
Para o pesquisador, estes resultados preliminares mostram que pelas frequências iniciais obtidas, o gir leiteiro pode ser utilizado como recurso genético apropriado para produção de leite apenas com a proteína beta-caseína A2, que, segundo dados da literatura agrega valor ao leite bovino por não estar associado a uma série de problemas de saúde humana.
“Na literatura científica, se dizia que a frequência do gene A1, que é o mutante e causador dos problemas de saúde humana era baixa, porém não havia um relato de qual seria a frequência”, explica Vercesi. No estudo, foi encontrada uma frequência de 88,5% do gene A2, que é o gene original e que não causa os problemas de saúde. Este fato, segundo o pesquisador, agrega muito valor ao gir leiteiro como raça zebuína, especializada em produção de leite em sistemas de pastagens, com baixa utilização de remédios e antiparasitários. “Agora podemos dizer também que a grande maioria de suas matrizes produz leite mais saudável, que não está associado à alergia e outras doenças humanas”, avalia.
O próximo passo do estudo é fazer a associação deste gene com características de produção de leite, gordura e proteína, além de genotipar os touros provados e em teste para este gene, o que possibilitará, ao produtor interessado, utilizar esta informação no seu processo seletivo.